Não se pode dizer que o ano de 2021 foi o caos, porque dependendo de como vier a ser 2022, essa classificação poderá ficar defasada. O que se pode dizer é que o mundo virou de pernas para o ar – vivenciando pela primeira vez a experiência de parar as sociedades, ao menos parcialmente – e isso fez picadinho das perspectivas colocadas um ano atrás.
Gênios da lâmpada não há. Um cílio que cai e é prensado entre dedos, a hora de soprar as velinhas no bolo de aniversário, a primeira estrela que se vê ao anoitecer, nada disso nos garante a realização de desejos. Desejar livremente, sim, todos nós podemos. Quantas vezes quisermos, nas mais variadas situações, em todos os momentos, um dia inteiro, a madrugada adentro. As vontades seguem numa prece, numa oração, numa reza, em meditações, em suspiros. E é no fim do ano que somos empurrados, mais do que nunca, a fazer pedidos. Se acreditamos em maior ou menor grau que se realizarão, isso depende da fé e da esperança de cada um, do poder que botamos em nós mesmos e tiramos do imponderável e, não tem jeito, da compreensão da realidade, das reais possibilidades.
De um lado essa afetação de grandeza com verniz humanista que tomou conta da publicidade, das redes sociais e de boa parte da elite burguesa; de outro a reação da sociedade sem padrinhos, enfim, das pessoas comuns, contra essa falsa ética pela qual a maioria sempre acaba pagando. O grande ensaio para essa forma malandra de ter poder fingindo altruísmo e solidariedade foi o reinado petista. A distribuição de vantagens particulares sob o manto “progressista” levou o Brasil à maior recessão da sua história – e também ao maior assalto já engendrado pelo núcleo central de governo. Isso nunca foi luta ideológica entre direita e esquerda. Sempre foi o conflito entre os que querem privatizar a democracia e os que não querem ter o produto do seu trabalho sugado por parasitas de boa aparência.
Na minha retrospectiva deste tenebroso ano de 2021 não há aplausos para a censura, não há aplausos para o Supremo Tribunal Federal, não há aplausos para tantas mortes, tantos por que?. E você? O que deixaria de fora? Bloqueio de contas nas redes sociais, o inquérito das fake news quebrando todos os recordes de ilegalidade, a prisão de jornalistas? Alguns talvez citassem o presidente da República, que mandou um jornalista calar a boca, mas esquecessem em que lugar um ministro do STF mandou um repórter enfiar uma pergunta. Eu lamentaria todas as mortes, não apenas as provocadas pelo coronavírus. As vítimas das quarentenas, dos confinamentos, as pessoas que caíram em depressão, que cometeram suicídio, que abandonaram tratamentos, que não fizeram exames para detecção precoce de doenças. Aquelas também que de forma precoce nos deixou. Aquelas que foram atiradas à miséria, à fome, 115 milhões em todo o mundo.
As melhores chances para 2021 estão concentradas numa abordagem mais pragmática da crise de saúde pública. O risco letal da Covid-19 suscitou uma reação compreensivelmente difusa da coletividade, mas o aprendizado com o percurso da epidemia possibilita um enfrentamento mais focado – especialmente na proteção aos vulneráveis. O conhecimento limitado sobre os riscos e as diretrizes totalitárias atropelando a todos minaram as convicções individuais. Mas qualquer prognóstico será precipitado enquanto não se tiver garantias de retomada do funcionamento normal da sociedade. O ano de 2021 termina com recrudescimento de bloqueios de atividades, tantas perguntas a se fazer, mais será que tem alguém para responder? Sobra as muitas dúvidas sobre imunização.
Mesmo com tantas notícias ruins, minha retrospectiva do ano não me levaria a esmorecer, não me faria fraquejar. Todo olhar equilibrado e sensato para o que foi 2021, no fim, é uma procura. Em meio à neblina, ainda resistem dois fatos: não se perderam para sempre as liberdades, não se perdeu a esperança. Peça a Papai Noel um banho de discernimento e honestidade intelectual em toda a sociedade, se ela não quiser virar geleia.
Danilo Birnfelt: Escritor de três livros, Poeta, Apresentador do Jornal bom dia Cidade | TVSDB, Radialista na rádio cidade, Colunista, Comentarista político e Publicitário.
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