“Ah! Eu vim de Ilha de Maré, minha senhora, pra fazer samba na lavagem do Bonfim. Saltei na rampa do mercado e segui na direção. Cortejo armado na Igreja da Conceição”. Foi com estes versos do compositor baiano Walmir Lima, eternizados na voz de Alcione, que a presidente da Assembleia Legislativa, Ivana Bastos, iniciou o seu discurso em homenagem a mais nova cidadã baiana. Com essa música gravada em 1977, frisou a chefe do Legislativo baiano, Alcione fundiu sua alma à cultura baiana.
“Hoje, a Bahia abraça com título aquilo que já era verdade no coração do povo: Alcione Nazareth, a inconfundível Marrom, é baiana por essência, por identidade, por amor e por legado. Uma mulher que atravessa gerações, que carrega o peso e a leveza do samba com a mesma naturalidade com que canta a alegria e a dor”, enalteceu Ivana Bastos.
A presidente da ALBA também saudou a deputada Olívia Santana, autora da proposta para concessão da honraria à cantora. “Uma mulher de visão cultural, sensibilidade política e consciência histórica. Ao propor este título, a deputada reafirma o compromisso desta Casa com a cultura negra, com as mulheres artistas, com o samba como patrimônio, e com a força do afeto como elemento legítimo da cidadania”, externou Ivana, que também saudou o deputado Bobô (PC do B), que foi um defensor do reconhecimento à artista.
Ainda em seu discurso, a chefe do Parlamento baiano aplaudiu a caminhada de Alcione, uma personalidade com presença viva nas festas, nos terreiros, nas rádios, nas ruas e nos corações. “Ela canta o samba como quem reza e canta a dor como quem vence. A Bahia vê nela uma irmã, uma filha, uma voz que nos traduz, que declara, convoca, consola e celebra. Quando Alcione canta, a ancestralidade se manifesta. É a força do tambor, o lamento da saudade, a festa da rua, o batuque da fé”, relacionou.
Por fim, Ivana Bastos reiterou a histórica ligação entre a cantora maranhense e o povo baiano. “Alcione representa a nossa Bahia profunda, a Bahia que canta para resistir. E é por isso que esta Casa, a casa da democracia baiana, se curva diante da sua trajetória, da sua história e da sua dignidade. Você já era da Bahia. A Bahia já era sua. Agora, é também por direito. Parafraseando a sua canção, me pergunto: ‘Quando vou te deixar? Me respondo nem morta’. Pois saiba que a Bahia também jamais abandonará você. Vamos com você de corpo, alma, tambor e coração”, discursou.